Muito Simples: Sobre O Mundo Espiritual (Rav. Laitman)

As pessoas costumam me perguntar: “O que é o mundo espiritual? Como podemos retratá-lo?” É muito simples. Este mundo é nossa sensação interna; parece-nos que algo está acontecendo lá fora.

Mas, na verdade, tudo o que acontece desde o vasto universo com todas as estrelas e até o que acontece na superfície da Terra na natureza inanimada, vegetativa e animada, e com as pessoas, tudo isso está representado no meu desejo de desfrutar. Se eu pudesse desconectar meu desejo egoísta, não sentiria a mim e nem ao mundo exterior.

Toda esta imagem revelada dentro do meu desejo de receber em sua forma original, criada pelo Criador sem meu trabalho e correções, mas apenas devido à influência de cima, é chamada de “este mundo”. Claro, sentimos mudanças o tempo todo, mas são mudanças dentro do nosso desejo. É por isso que nos parece que o mundo está se movendo. Na verdade, nada se move a não ser nossa impressão que muda dentro do desejo de receber porque o desejo muda.

Este não é o caso do mundo espiritual. No mundo espiritual, não estou apenas impressionado com a influência superior, mas eu mesmo ajo ao mesmo tempo. Se todo este mundo é o resultado da ação da força superior, o mundo espiritual é o resultado da interação, sa conexão entre minha ação e a ação do Criador. Quanto mais parecido com o Criador, mais revelo o mundo espiritual como a medida de minha equivalência com a força superior.

Da Lição Diária de Cabalá 16/11/21, Baal HaSulam, Shamati 59, “A Respeito do Cajado e da Serpente”

Fonte: Blog Michael Laitman

SHAMATI 1 – NÃO HÁ NINGUÉM ALÉM DO CRIADOR (BAAL HASULAM)

RABBI YEHUDA LEIB HALEVI ASHLAG (BAAL HASULAM)
SHAMATI
CAPÍTULO 1
NÃO HÁ NINGUÉM ALÉM DO CRIADOR

Shamati em Parashat Yitro, 1º de Fevereiro de 1944

Está escrito que “não há ninguém além do Criador”, o que significa que não há nenhum poder no mundo capaz de fazer alguma coisa contra Sua Vontade.
E se o homem vê que há coisas neste mundo, que negam o domínio do Alto, é porque Ele quer assim.
E considera-se uma correção, chamada “a esquerda rejeita e a direita acrescenta”, significando que aquilo que o lado esquerdo rejeita é considerado uma correção. Isso significa que há coisas no mundo, que por princípio estão destinadas a desviar a pessoa do caminho correto, e mantê-la distanciada da santidade.
O benefício dessas rejeições é que através delas a pessoa recebe a real necessidade e um completo desejo pela ajuda de Deus, pois vê que de outra forma está perdida.
Não apenas ela não progride em seu trabalho, como vê ainda que regride, e que lhe falta a força para sequer observar a Torah e as Mitzvot, mesmo que não seja em Seu nome. Porque somente se superar genuinamente todos os obstáculos, acima da razão, ela pode observar a Torah e as Mitzvot.
Mas nem sempre ela tem a força para ir acima da razão, porque se ocorresse o contrário, Deus proíba, ela seria forçada a se desviar do caminho do Criador, e não agir pelo Seu nome.
A pessoa sempre sentiu que o fragmento é maior que o total, o que significa que há mais descidas que ascensões. Ela não vê uma finalidade para esses apuros, e sempre se sente excluída da santidade, porque vê que é difícil para ela observar até mesmo uma insignificância, se não agir acima da razão, mas nem sempre ela é capaz de agir assim. E qual será o fim de tudo isso?
Então essa pessoa entende que ninguém pode ajudá-la, a não ser o próprio Deus. Isso faz com que ela dirija um pedido sincero ao Criador para que abra seus olhos e coração, e a aproxime da eterna adesão a Deus. Ela compreende, então, que todas as rejeições que ela experimentou vieram do Criador.
Isso significa que as rejeições que ela experimentou não aconteceram por sua culpa, ou por que não era capaz de prosseguir, mas sim porque essas rejeições são para aqueles que verdadeiramente querem se aproximar de Deus. E para que essa pessoa não se satisfaça com apenas um pouco, mais precisamente, para que não permaneça como uma criança sem conhecimento, ela recebe ajuda do Alto, de modo a que não seja capaz de dizer que “graças a Deus, ela observa a Torah e pratica boas ações, e portanto, o que mais ela poderia pedir?”
Só se essa pessoa tiver um verdadeiro desejo, ela receberá ajuda do Alto. E lhe são mostradas constantemente as suas faltas no estado presente, isto é, são-lhe enviados pensamentos e opiniões que trabalham contra seus esforços. Isto é para que ela veja que ela não está unificada a Deus. E quanto mais ela supera, mais percebe o quão longe da santidade ela se encontra, por comparação aos outros, que se sentem unificados a Deus.
Mas essa pessoa, por outro lado, sempre tem suas queixas e exigências, e não consegue justificar o comportamento do Criador, nem o modo como Ele age com relação a ela. E isso vai lhe provocando dor, porque ela não se sente unificada ao Senhor, até que chegue a sentir que não tem participação nenhuma na santidade.
E embora ela seja ocasionalmente despertada pelo Alto, e isso momentaneamente a reavive, logo ela cai novamente em um abismo. Porém, é isso que lhe faz compreender que somente Deus pode ajudar e realmente atraí-la para mais perto.
A pessoa sempre deve tentar se aproximar do Criador, isto é: tentar fazer com que todos os seus pensamentos se refiram a Ele. Isso quer dizer que mesmo que ela esteja no pior estado, do qual não possa haver uma grande queda, ela não deve abandonar Seu domínio, isto é, não deve pensar que há outra autoridade que o afaste de entrar na santidade, e que tenha o poder de beneficiar ou ferir.
Portanto a pessoa não deve pensar que é o poder do Outro Lado (sitra achrah), que não lhe permite praticar boas ações e seguir os caminhos de Deus, mas sim, que tudo isso é determinado pelo Criador.
Como dizia o Baal Shem Tov, aquele que afirmar que há outro poder no mundo, isto é, conchas, está num estado em que “serve a outros deuses”, ainda que não pense, necessariamente, em cometer o pecado da heresia; mas se ele pensa que há outra autoridade e força, que não o Criador, desse modo ele está cometendo um pecado.
Além disso, aquele que diz que o homem tem sua própria autoridade, ou seja, aquele que diz que ontem ele mesmo não quis seguir os caminhos de Deus, esse também se considera como tendo cometido o pecado de heresia. Isso significa que ele não acredita que somente o Criador conduz o mundo.
Quando a pessoa comete um pecado, certamente deve se lamentar por isto e se arrepender por tê-lo cometido, mas aqui também nós devemos colocar a dor e a lástima na ordem correta: aquilo a que ela atribuir a causa do pecado, é nesse ponto que ela deve se arrepender.
A pessoa então deve se arrepender e dizer: “eu cometi esse pecado porque o Criador me lançou abaixo da santidade, em um lugar imundo, no lavatório, onde está a imundície”. Isso é o mesmo que dizer que o Criador lhe deu um desejo e um apetite por se divertir e respirar o ar de um lugar mal-cheiroso. (E também se pode dizer, como está nos livros, que às vezes o homem encarna no corpo de um porco, e então ele recebe um desejo e o apetite por manter-se com coisas que ele já teria decidido que eram lixos, mas agora ele novamente quer se reavivar com elas).
E também, quando a pessoa sente que está em um estado de ascensão, e sente algum prazer no trabalho, ela não deve dizer: “agora eu estou em um estado em que compreendo que é valioso servir a Deus”. Melhor seria que soubesse que agora o Senhor a notou, e por isso a atraiu para Si, o que é a razão pela qual ela sente prazer no trabalho. Ela deve tomar o cuidado de nunca abandonar o domínio da santidade, nem dizer que há outra força operando, além do Criador. (Mas isso significa que a questão de encontrar favor aos olhos do Senhor, ou o oposto, não depende do homem, mas sim, que tudo depende de Deus. E o homem com sua mente superficial, não consegue compreender por que o Senhor agora gosta dele e após, não gostará).
igualmente quando a pessoa lamenta que o Criador não a traz para perto, ela também deveria ter cuidado para não se queixar por ter sido distanciada do Criador, pois fazendo assim ela se torna um recipiente para seu próprio benefício, e aquele que recebe é separado do Criador. Melhor seria que ela lamentasse o exílio da Presença Divina, isto é, por infligir tristeza à Presença divina.
A pessoa deveria tomar como exemplo a ocasião em que algum pequeno órgão está dolorido. A dor é sentida principalmente no coração e na mente, que são a generalidade do homem. E certamente a sensação de um simples órgão não se assemelha à sensação da completa estatura da pessoa, onde a maior parte da dor é sentida.
Igualmente é a dor que a pessoa sente quando ela é distanciada do Senhor, já que o homem é apenas um órgão da Presença Divina, pois a Presença Divina é a alma de Israel em geral. Assim a sensação de um simples órgão não se assemelha à sensação da dor em geral. Isso significa que a Presença Divina lamenta que haja partes dela mesma que estejam distanciadas, e que ela não pode ajudar. (E esse pode ser o significado das palavras: “quando o homem lamenta, a Presença Divina diz: isto está mais leve que a minha cabeça”). E se o homem não relaciona a ele mesmo a tristeza de estar distanciado de Deus, ele é salvo de cair na armadilha do desejo de receber para si mesmo, que é a separação da santidade.
O mesmo se aplica quando alguém se sente um tanto mais próximo da santidade. Quando ele está feliz de ter merecido favor aos olhos do Senhor, ele precisa dizer que o centro de sua alegria é que agora há alegria na Presença Divina, por ter conseguido trazer seu próprio órgão para mais perto, e não rejeitá-lo.
E o homem se alegra por ter sido dotado com a capacidade de agradar à Presença Divina. Do mesmo modo, a alegria que um indivíduo sente, é apenas uma parte da alegria que o total sente. E através desses cálculos ele perde seu individualismo, e evita cair na armadilha do Outro Lado, que é o desejo de receber para si mesmo.
Todavia, o desejo de receber é necessário, pois é isso o que constitui uma pessoa, e nada existe numa pessoa além do desejo de receber que lhe é atribuído pelo Criador. De qualquer forma, o desejo de receber prazer deve ser corrigido para adquirir a forma de doação.
Isso quer dizer que o prazer e a alegria, sentidos pelo desejo de receber, devem ter a intenção de transmitir contentamento ao Alto, em razão do prazer que acontece abaixo. Pois esse foi o propósito da criação, de beneficiar Suas criações. E isso é chamado à alegria da Presença Divina acima.
Por essa razão, o homem deve buscar conselho sobre como ele pode causar contentamento acima. E certamente, se ele recebe prazer, o contentamento será sentido acima. Assim, ele deve ansiar por estar sempre no palácio do Rei, e por ter a capacidade de lidar com os tesouros do Rei. E isso certamente causará contentamento acima. Conclui-se que seu inteiro anseio deve ser em prol do Criador.

FONTE: KABBALAH.INFO

CONSIDERE ESSA PASSAGEM DE “UM CURSO DE AMOR”

Considere esta passagem do Curso:

Cada dia é a tua criação, mantida pelo sistema de pensamento que a originou. Observar isso é ver sua realidade. Ver essa realidade é ver a imagem de Deus que tu criaste à semelhança de Deus. Essa imagem se baseia em tua memória da verdade da criação de Deus, e em teu desejo de criar como teu Pai. Em teu esquecimento, é o melhor que poderias fazer, mas, ainda assim, te diz muito. (C:8.24)

A passagem aqui sugere que a realidade física como a conhecemos é apenas um fac-símile da criação de Deus. Essa passagem surge relativamente cedo no UCDA, quando as ideias centrais do UCEM são oferecidas por meio da linguagem do coração. Nesta passagem, Jesus está falando sobre o mundo como a mente separada o concebeu. Mais tarde, no UCDA, passamos a compreender que o mundo que vivenciamos é o produto de nossas ideias, crenças e percepções – uma ideia consistente com os ensinamentos do UCEM. À medida que nossas ideias e crenças mudam, o mundo de nossa experiência será transformado e o Novo será criado.
A dificuldade aqui está em desejar compreender a experiência de um mundo físico como sendo uma coisa ou outra – como sendo puramente falsa e uma negação da criação de Deus, ou como sendo a essência da criação de Deus e a imagem do próprio Deus. Nenhum dos dois está totalmente correto, porque a realidade física é neutra. UCDA diz que a forma a serviço da ilusão revela e se torna ilusão, enquanto a forma a serviço da verdade revela e se torna verdade.

– Sérgio Condé

Meu comentário ao texto acima:

Realmente, considero essa passagem do Curso (e essa explicação) muito importante. Durante anos, ao estudar ensinamentos metafísicos, deparei-me com ideias dizendo que “o mundo visível é um fenômeno abominável, porque é imperfeito, porque não foi criado por Deus, e deve portanto ser rejeitado”. Alguns ensinamentos chegam a pregar que esta existência fenomênica é uma maldição da “mente carnal” que foi colocada sobre a humanidade e que os seres humanos devem aprender a negar a sua existência. Em princípio, errado não está. Mas ensinamentos assim podem ser perigosos, porque podem levar a pessoa a desenvolver uma ideia e sentimento completos desgosto pela vida e também por si mesma. A ideia de culpa e ódio fica sendo retroalimentada na mente, já que nos vemos existindo num mundo onde supostamente não deveríamos existir. E, pensando assim, as pessoas que acreditam nesses ensinamentos buscam enxergar ou alcançar um mundo superior e perfeito criado por Deus.
Durante um bom tempo eu me deparei com esses dilemas. Nunca acreditei que o mundo fenomênico fosse “essência ou imagem do próprio Deus”, mas tive de fazer um grande esforço (e muita ter paciência) para compreender e aceitar como este mundo pode ser capaz de expressar Deus e ser um lugar bonito e digno de se viver. Hoje já estou completamente resolvido com essa questão. O mundo fenomênico por si é nada. Ele pode expressar/revelar a realidade separada do ego ou a realidade divina (unidade). Tudo depende da forma como o estamos percebendo.

Namastê!

UCDA/TELEGRAM