Construir uma ponte entre a experiência consciente e a inconsciente é o ato básico e essencial de integração do eu. Toda a espiritualidade baseia-se nesta integração.
A cisão entre corpo e espírito ocorre na mente. E ela precisa ser reparada. O corpo nunca é inimigo do espírito. Na verdade, acontece o oposto. É o corpo que rompe a frágil carapaça do falso eu e traz à tona as lembranças reprimidas para que sejam curadas. Por ser a cruz na qual sente a dor, o corpo goza de má reputação. Mas a menos que essa dor seja sentida, a ressurreição é impossível.
Negar a dor da existência não eleva o corpo. Não alivia a dor que ele sente. A negação da dor é, na realidade, o ato da crucificação. Ele acontece a todo momento.
Sentir dor é voltar a se unir ao corpo, é trazer a respiração (espírito) de volta para o corpo. Nesse ato de religação, o falso eu é destruído de uma vez por todas. Cai a máscara do fingimento e da negação. As lembranças voltam e a experiência é integrada.
A dor não é nossa inimiga, mas sim a maior amiga que temos. Ela nos leva de volta para o corpo; nos leva de volta a respiração. Nos leva de volta para a totalidade da experiência.
A ressurreição do corpo é um símbolo da reintegração da mente dividida. É a mente na qual o subconsciente tornou-se consciente. É a mente em que o perdão sucede ao julgamento, assim como a expiração sucede a inspiração.
Muitas vezes, as circunstancias mais difíceis e desafiadoras promovem os maiores crescimentos espirituais. Há casos em que somente a deslealdade mais explícita consigo mesmo faz com que a pessoa tome consciência de que numa mais quer sofrer nenhuma deslealdade.
No final, temos de parar de julgar as nossas experiências e de compará-las com as das outras pessoas. A nossa experiência, com todos os seus altos e baixos, é perfeita para nós. Ela proporciona as lições de que precisamos para transcender o medo e a culpa.
Viver uma vida de entrega é viver as nossas experiências aqui e agora. É aceitá-las sem julgá-las. Ou, se a julgarmos, perdoarmos-nos por isso. Se aceitamos as nossas experiências, isso significa que não vamos nos distanciar delas, do ponto de vista emocional. Significa que ficamos cada vez mais conscientes das ocasiões em que nos dissociamos e sabemos como nos trazer de volta gentilmente.
Esse “nos trazer de volta gentilmente” é a essência da meditação. Meditar não é necessariamente parar de pensar. Mas é a necessidade de tomar consciência dos pensamentos à medida que eles brotam, para ver como eles nos perturbam, tirando-nos do silêncio. Para ver como eles nos impedem de ficar inteiramente no presente. Meditar é ver como os pensamentos nos levam a nos distanciar de nós mesmos e do momento presente.
O pensamento não é uma coisa ruim. Se você considerá-lo uma coisa ruim, isso só servirá para provocar mais pensamentos acerca do ato de pensar. O pensamento é simplesmente o que acontece quando o eu essencial adormece.
Não faça do pensamento uma coisa ruim. O pensamento é simplesmente uma coisa que acontece quando o eu essencial adormece.
O despertar é o que acontece quando você não cai mais no sono. Não existe nada de especial nisso. Não existe nada que você precise conquistar. Você está acordado neste momento e depois você se esquece e vai dormir.
A dor, o desconforto, o conflito despertam você do sono. Pare de resistir aos seus maiores professores. Agradeça-os por se fazerem presentes. Agradeça-os por terem trazido você de volta para o momento presente.
No presente você pode simplesmente ser. Sem julgamentos, sem regras. Simplesmente seja o que é.
FONTE: ERA DOURADA